Mais de 1,2 mil crianças e adolescentes sofreram abuso sexual no estado, entre janeiro e dezembro de 2021. Medidas de prevenção e educação são o caminho para evitar o aumento desses crimes.
A prevenção ao abuso e exploração sexual infantil em Mato Grosso segue avançando de forma lenta, segundo duas especialistas ouvidas pelo g1. Nesta quarta-feira (18) comemora-se o combate a esses crimes em todo o país.
De acordo com o último levantamento feito pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp-MT), 1.289 crianças e adolescentes, de 0 a 17 anos, sofreram abuso sexual no estado, entre janeiro e dezembro de 2021, em Mato Grosso. Os dados apontam um aumento de 2% se comparado com 2020, quando foram 1.258 registros.
Somente em Cuiabá, foram 212 casos em 2021. Já em 2020 registrou-se 169 abusos contra crianças e adolescentes, de acordo com a Sesp, o que significa um aumento de 26%.
De acordo com a pedagoga e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT|), Elni Elisa Wilms, as crianças, especialmente as meninas, indicam sinais sutis aos pais quando passam por situações traumáticas, como o abuso sexual.
Elas são consideradas as principais vítimas desse delito.
O artigo de Elni, intitulado 'Pequenas cócegas: abuso sexual de meninas', traz reflexões fundamentais aos adultos neste assunto.
"São vários sinais que as meninas podem dar, de que estão sendo violentadas, tais como: dificuldade para se expressar verbalmente, agressividade, medo, a criança pode mostrar-se arredia, esquivar-se e isolar-se e ter crises de choro sem motivo aparente. É preciso saber ler esses sinais para que os adultos responsáveis por essa criança tomem a atitude de protegê-la e cuidá-la", explica.
Além disso, Elni também destaca as formas pelas quais os abusadores usam para se aproximar das crianças. "Quando ela foi abandonada, negligenciada. Quando os adultos deveriam protegê-la e simplesmente não tem essa conduta. É aí que o abusador encontra brechas para abusar delas", diz.
Segundo ela, outro comportamento típico do abusador seria a ameaça à vítima, o que a torna uma refém do ato da violência.
"O papel dos adultos pode ser fundamental na medida em que educa, ensina e mostra para a criança que ela não pode permitir que qualquer pessoa toque seu corpo. Ela precisa aprender a se proteger, a ter respostas ou ter alternativas de escapar do abusador", diz.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em vigor desde 1990, instituiu diferentes frentes de proteção, como o Disque 100, que recebe denúncias anônimas e oferece proteção às vítimas.
Além disso, outra maneira de lidar com essas situações é falar sobre o que aconteceu.
"É preciso falar sobre a violência e abuso sexual com meninas, como apontado no meu texto, falar é o princípio da aceitação, do alívio da dor. Reconhecer que houve um abuso e encorajar-se para falar dele não é algo simples, porque precisa encontrar alguém de confiança para escutá-la", afirma.
Segundo a assistente social Paula Assunção, a falta de investimento em políticas públicas impede um avanço definitivo para reverter os índices de abusos.
"O investimento público está cada vez menor em política pública voltada pra educação sexual, para proteção crianças, diversidade e gênero. Tudo isso que é considerado forma de proteção. Então, nós temos cada vez menos verbas", diz.
Segundo ela, os crimes acontecem onde as crianças se sentem mais seguras.
"É na família, na escola e na igreja os lugares onde a criança é mais protegida e amada. Mas também é na família, na escola e na igreja onde ela sofre a maior parte das violências sexuais", ressalta.
G1 MT