Mais de 100 mil hectares de florestas da Amazônia foram explorados ilegalmente
para a extração de madeira, de agosto de 2021 a julho de 2022. Considerando o total
explorado, autorizado ou não, Mato Grosso respondeu por 65,8%, seguido pelo
estado do Amazonas com 12,8%. Nove municípios com maiores áreas exploradas
sem autorização estão em Mato Grosso.
Os dados fazem parte do estudo "Mapeamento da exploração madeireira na Amazônia",
lançado nesta sexta-feira (8) pela Rede Simex (Imazon, Idesam, Imaflora e ICV) durante a COP28, em Dubai.
Ao todo, segundo o levantamento, 396 mil hectares da região amazônica foram explorados
para a extração de madeira no período analisado pela rede. Desse total, 288.139 hectares (73%)
foram autorizados pelos órgãos ambientais, enquanto 106.477 hectares (27%) foram
explorados de forma ilegal.
"Esse índice de exploração não autorizada é muito alto e representa graves danos
socioambientais para a Amazônia, bem como econômicos, especialmente associados à cadeia
produtiva da madeira", aponta o estudo, em um trecho.
Foram mapeados seis dos nove estados da região: Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará,
Rondônia e Roraima, no caso do Amapá, pelo segundo ano consecutivo, a análise foi
impossibilitada pelo alto percentual de cobertura de nuvens nas imagens de satélite.
O cruzamento dos dados revelou um cenário preocupante: 25,6% da ilegalidade se concentrou
em terras indígenas (19,5%) e unidades de conservação (6,1%). "Uma situação que prejudica
gravemente a conservação dessas áreas e a vida dos povos e comunidades tradicionais que
estão ligados a elas", diz a rede Simex
Outro dado que chama a atenção é que a maior parte (60,9%) da exploração ilegal foi
identificada em imóveis rurais com Cadastro Ambiental Rural (CAR). "São imóveis rurais
privados, em que os dados de propriedade e proprietário são de conhecimento dos órgãos
federal,
especialmente o IBAMA, para que esse combate seja feito de forma efetiva", avalia.
Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon, ressalta que embora tenha apresentado
uma discreta redução, a exploração não autorizada de madeira ainda persiste na
Amazônia. "O que evidencia a importância de ferramentas como o Simex, que por
meio da geração e divulgação de dados estratégicos contribui nas políticas de
combate à essa prática ilegal", completa.
Ranking da exploração madeireira
Considerando o total explorado, autorizado ou não, Mato Grosso respondeu por
65,8%, seguido pelo estado do Amazonas com 12,8%, Pará com 9,8%, Acre com 6,5%,
Rondônia com 4,7% e Roraima com menos de 1%.
“Comparando com o período anterior, foram verificados aumentos nas áreas
exploradas nos estados do Acre (135,8%), Amazonas (236,9%), Rondônia (13,9%) e
Roraima (32,8%). E reduções nos estados do Pará (32,5%) e Mato Grosso (6,3%)", diz
o texto. J
á o ranking da ilegalidade tem o Pará (46%) na liderança, seguindo por Mato Grosso
(31%), Roraima (29%), Rondônia (19%), Amazonas (9%) e Acre (2%).
Os dez municípios com mais áreas exploradas sem autorização somaram quase metade
(53,7%) de toda a extração não-autorizada no período. Nessa lista, nove estão localizados em
Mato Grosso e um no Pará. Somente o município de Colniza, no noroeste mato-grossense, teve
mais de 12 mil hectares de exploração madeireira ilegal.
De acordo com o estudo, a manutenção de um cenário com percentuais elevados de
ilegalidade tem consequências danosas e duradouras não apenas para a manutenção da
floresta. "Sem o manejo florestal sustentável, a extração ilegal de madeira pode levar a floresta
à degradação, tornando-a mais suscetível a incêndios e perda de biodiversidade, além de
representar maior risco de conflitos fundiários e deixar de gerar empregos formais e renda",
conclui o relatório.
Transparência aumenta
A análise da rede Simex foi feita a partir do cruzamento entre a exploração madeireira
mapeada e os dados das autorizações emitidas. No documento, o grupo reconhece uma "lenta
melhora" no acesso a esses dados.
Nos estados do Amazonas e Roraima, as informações foram obtidas por meio de dados do
Sinaflor (Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais), disponibilizados na
plataforma do Siscom (Sistema Compartilhado de Informações Ambientais).
Nos estados do Acre e de Rondônia, além dos dados do Sinaflor, foram utilizados dados dos
Planos de Manejo Florestal Sustentável e Autex (Autorizações de Exploração Florestal)
concedidos pelo IMAC (Instituto de Meio Ambiente do Acre) e pela SEDAM – RO (Secretaria de
Estado de Desenvolvimento Ambiental)
Em Mato Grosso, as bases de dados foram obtidas no Portal de Transparência e no Sistema
Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental (Simlam), ambos geridos pelo órgão
estadual. Tanto o mapeamento quanto a validação da legalidade checada foram realizados em
cooperação técnica entre o Instituto Centro de Vida (ICV) e a Sema/MT.
No Pará, os dados utilizados foram obtidos por meio do Sistema Integrado de Monitoramento e
Licenciamento Ambiental (Simlam-PA), Serviço Florestal Brasileiro e IdeflorBio.
Para cada área de extração madeireira mapeada foi verificada a existência de licença válida
para Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) ou Plano de Exploração Florestal (PEF), que
no caso é a Autorização para Exploração Florestal, no período de análise deste trabalho
(agosto de 2021 e julho de 2022).