Quatro detentos do Presídio Mata Grande em Rondonópolis (212 quilômetros ao Sul de Cuiabá) aplicavam golpes em parentes de pacientes internados em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) em várias cidades do país, sendo maioria do Rio de Janeiro, e faturavam R$ 200 mil por mês. O crime de estelionato praticado pelos presos foi destaque do Jornal Nacional, da TV Globo, na noite desta quinta-feira (27).
Em uma das conversas veiculada na reportagem, um dos criminosos afirma ao parente de uma paciente chamada Ofélia, que ela está em estado grave e precisa realizar um procedimento emergencial.
“Eu vou necessitar, meu querido, de correr contra o tempo agora, nesse momento, pra ‘tá’ revertendo o quadro da dona Ofélia. Vou necessitar da ajuda da família, Ok?”, afirma o bandido.
Em outra ligação, um dos presos pede à uma mulher R$ 9,8 mil para realização de exames computadorizados de uma paciente. Desesperada, a mulher concorda a pagar o valor antecipado.
A reportagem também destaca erros de português dos golpistas e até o momento em que eles erram o alvo. Um dos supostos médicos liga para uma da vítima e avisa que a mãe dele irá morrer caso não faça o procedimento informado e recebe a resposta: “Deixa eu te perguntar. Reverter o quadro clínico dela como, se ela já morreu? Minha mãe faleceu”, diz uma vítima ao telefone.
A investigação foi feita pela polícia do Rio de Janeiro porque a maioria das vítimas é da cidade.
A escuta policial durou cinco meses, e mostrou que os criminosos agiam em todo o Brasil, com chips de telefone de vários estados. Mas a quadrilha estava num único lugar: são quatro presos de uma cela da Penitenciária Mata Grande, em Rondonópolis, Mato Grosso.
Eles fizeram mais de 90 mil ligações. Fora da cadeia, comparsas sacavam o dinheiro nas agências bancárias. O bando faturava até R$ 200 mil por mês com o golpe.
Golpista: Fica na ativa aí, que na hora que ela falar que “tá na mão, doutor”, nós “liga” pra você.
Golpista: Falou, então.
Golpista: Então fica na ativa aí, que nós “vai” ganhar um dinheiro agorinha.
Golpista: Ô, Catatau, tem R$ 6 mil, vai lá sacar.
Golpista: “Demorô”.
Os golpistas debochavam.
Golpista: Tem gente burra demais.
Golpista: Não é que o povo é burro, é que “nós” conversa bem demais.
A delegacia de Copacabana monitorou caixas eletrônicos e prendeu quatro pessoas em Rondonópolis. Elas captavam contas usadas no golpe, sacavam o dinheiro e enviavam para a cadeia. Nesta quinta-feira (27) os policiais entraram no presídio e apreenderam cinco celulares. Eles também encontraram o texto que os golpistas repetiam para cada vítima: “Bom dia, doutor Marcelo, aqui é do hospital tal”.
Os presos, que cumpriam pena por roubo à mão armada, agora vão responder também por estelionato e formação de quadrilha. Uma vítima conseguiu recuperar o dinheiro.
“A gente tá envolvido emocionalmente na situação, e você só pensa em ajudar mesmo a pessoa que você ama, né? Você acaba se sentido culpada e envergonhada de ter sido roubada. Na verdade isso é errado, né? A culpa é do bandido, ele que é o culpado da situação”.
“Eu sempre vou aconselhar que todas as pessoas chequem pessoalmente ou ligando para o hospital. Confirme aquela informação antes de aceitar depositar qualquer tipo de quantia em dinheiro”, orienta o delegado Gabriel Ferrando.
A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Mato Grosso informou que, no primeiro semestre, apreendeu 300 celulares na Penitenciária da Mata Grande, e que está investindo R$ 2,5 na compra de um equipamento que bloqueie os celulares.