Neste mês, reeducandos de 27 unidades prisionais de Mato Grosso farão provas do Exame Nacional do Ensino Médio para pessoas privadas de liberdade. A aplicação do exame será nos dias 12 e 13 de dezembro para 659 reeducandos inscritos.
Das salas de aula de unidades penitenciárias, alguns recuperandos conseguiram em anos anteriores obter sucesso nas provas do Enem e hoje estudam em universidades, como a UFMT em Rondonópolis, com autorização judicial. Atualmente são 20 de várias unidades prisionais cursando graduações como Letras, Ciências Contábeis, Ciências Biológicas, Administração, Matemática e Zootecnia.
Um deles é A.J.M.L, 35 anos, que atualmente estuda Letras na instituição federal. Quando entrou na penitenciária Major Eldo Sá Corrêa ele tinha apenas a sexta série. “Comecei a frequentar a escola dentro da unidade e foi onde eu tive a oportunidade de concluir meu ensino médio. Fiz o Enem, alcancei a média e hoje curso letras na UFMT. A importância de frequentar a universidade é saber que ainda estou em condições de voltar e me reintegrar à sociedade, concluir um curso superior adquirir uma profissão e garantir o bem-estar da minha família. O sentimento de hoje ter cursado o primeiro ano e agora estar no segundo ano de graduação é de autoestima, tenho um sentimento de confiança de que eu sou capaz e que vou conseguir alcançar meus objetivos”, conta o reeducando.
“Na minha vida antes de chegar no presídio, não passava pela minha cabeça eu terminar meu ensino médio, de entrar em uma faculdade e fazer um curso de graduação. Isso foi a oportunidade que me apareceu dentro da unidade prisional mesmo e a notícia de entrar para a UFMT realmente foi uma surpresa no dia que eu recebi. Hoje sou bastante agradecido por isso e me empenho bastante em concluir meu curso”, conclui A.L.
Recomeço de vida
A professora Creuza Ribeiro é a coordenadora pedagógica da penitenciária de Rondonópolis, onde quase 400 reeducandos estão matriculados na educação. A unidade prisional, conhecida como Mata Grande, tem cinco salas de aula e nelas muitos reeducandos conseguiram alçar novas oportunidades.
Ela está na Escola Nova Chance, responsável pelo projeto pedagógico dentro do Sistema Penitenciário, desde a criação e destaca o empenho de muitos reeducandos no processo educacional. “A educação e o trabalho têm uma contribuição essencial na ressocialização dos reeducandos. Nossa meta é sempre ofertar aulas atrativas com temas relevantes, levando sempre em conta que a educação é um instrumento importante dentro da unidade, pois tem reflexos internos e externos”, destaca a pedagoga.
P.H., 29 anos, cumpre pena há mais de cinco anos. Na Escola Nova Chance começou a cursar a 8ª série e conseguiu concluir o ensino médio. Hoje ele cursa Zootecnia. “Nunca me imaginei fazendo isso. Quando eu fui recolhido, achei que tudo iria acabar. Mas vejo que através da escola eu estou recomeçando a minha vida. Não imaginava que eu poderia ingressar em uma faculdade, porque eu já tinha desistido dos estudos. E aqui foi aonde eu dei continuidade aos meus estudos. Eu vejo algo melhor para o meu futuro”, diz o reeducando agradecido pela oportunidade.
Para o Enem deste ano, as provas darão acesso para o ensino superior, diferente de ano anteriores quando era possível utilizar as notas obtidas para obter certificação do ensino médio.
Encceja
A coordenadora de educação penitenciária da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, Margareth Anderson, explica que também em dezembro os reeducandos farão as provas do Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos – que certifica os ensinos fundamental e médio. Estão inscritos para esta prova 1.320 reeducandos de 35 unidades. As provas serão aplicadas nos dias 19 e 20 de dezembro.
O Sistema Penitenciário de Mato Grosso possui salas de aula em 46 unidades prisionais e nesse ano mais de 3 mil recuperandos foram matriculados nos ensinos fundamental e médio.
A oportunidade de estudar, mesmo privada de liberdade, deu novo ânimo à reeducanda Izabel, que está na unidade feminina de Nortelândia. Com apoio da pedagoga da cadeia, ela se inscreveu no 3º concurso de redação promovido pela Defensoria Pública da União, que teve como tema neste ano “Mais Direitos, Menos Grades! ”. Izabel ficou em primeiro lugar na categoria inscrita, de estudante do ensino fundamental privado de liberdade.