Nem todas as lendas surgem da ficção e do imaginário popular. Prova disso, é o caso do João Manoel, um português que morava em Cuiabá nos anos 20 e se livrou de ser enterrado vivo.
João Manoel sofria de uma doença ainda desconhecida naquela época, a catalepsia. A doença fez com que ele dormisse por muito tempo, dando a impressão de que estava morto. E, por isso, o grande medo dele, era que os familiares o enterrassem ainda vivo.
Devoto de Nossa Senhora, ele fez uma promessa à santa. Se ela o protegesse e não deixasse que ele fosse enterrado vivo, ele construiria uma igreja.
O que João Manoel temia quase aconteceu e, durante um sono profundo, os familiares organizaram o velório dele e no meio do funeral ele acordou e se levantou do caixão, chocando a todos os presentes no local, como mostra a ilustração de Ric Milk.
A história dele foi contada de geração para geração e se tornou um dos "causos" mais populares da capital.
O garimpeiro Garibaldi Toledo de Moraes, de 80 anos, passou a infância ouvindo os avós e os tios contarem essa história.
Ele morou na capital nos anos 50 e parte da década de 60. Quando exercia o serviço militar foi relatar essa história aos companheiros de quartel e, para a surpresa dele, um dos colegas disse que conhecia João Manoel, o personagem da história. “Ele disse: 'Ele é o meu avô'”, contou.
A história foi replicada ao longo do tempo, curiosamente da mesma forma. Inclusive, é contada no livro do historiador Aníbal Alencastro.
À época, Cuiabá era dividida por três ruas principais. As ruas Engenheiro Ricardo Franco, Pedro Celestino e Galdino Pimentel, conhecidas popularmente como Rua de cima, Rua de Baixo e Rua do Meio.
Em cumprimento à promessa, ele construiu a Igreja Nosso Senhor dos Passos, no Centro da cidade, com dinheiro próprio e doações da comunidade.
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