A bisavó da índia recém-nascida – que sobreviveu após ser enterrada viva por seis horas em Canarana, a 838 km de Cuiabá –, foi denunciada nessa segunda-feira (11) pelo Ministério Público Estadual de Mato Grosso (MPE) por tentativa de homicídio duplamente qualificado.
Kutsamin Kamayura, de 57 anos, está presa e alegou à polícia que enterrou a menina por acreditar que ela estivesse morta. Para a Polícia Civil, a bisavó e a avó, que também está presa, premeditaram e planejaram enterrar a recém-nascida. A bisavó teve a liberdade negada pela Justiça.
O G1 tentou, mas não consegiu localizar a defesa de Kutsamin. A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que aguarda a apuração de todos os fatos pelas 'instâncias responsáveis' e acompanha o caso por meio das unidades locais e nacional.
De acordo com o MPE, ao enterrar a recém-nascida, a bisavó tentou matá-la asfixiada e com ‘impossibilidade de defesa’.
Na denúncia, o MPE pontuou que, após auxiliar no parto da neta, de 15 anos, a bisavó cortou o cordão umbilical, enrolou a vítima em um pano e a enterrou no quintal, numa cova de aproximadamente 50 centímetros.
Conforme o promotor de Justiça, Carlos Rubens de Freitas Oliveira Filho, a família não aceitava a gravidez da adolescente pelo fato dela ser mãe solteira.
Testemunhas relataram ao Ministério Público que a conduta criminosa foi premeditada e orquestrada semanas antes ao nascimento da criança. A cova foi aberta pela manhã, no dia do parto.
“Após o nascimento, no período da tarde, colocaram em prática o plano criminoso. Ninguém da família pediu qualquer tipo de auxílio ou ajuda à Casa de Saúde Indígena, apesar da adolescente, após o parto, apresentar hemorragia e precisar ser atendida”, diz trecho da denúncia.
A recém-nascida foi resgatada por policiais militares e civis após uma denúncia anônima. A bebê foi transferida para a Santa Casa de Misericórdia em Cuiabá, onde permanece internada na UTI.
Kutsamin Kamayura cumpre a prisão preventiva na Funai em Gaúcha do Norte, a 595 km de Cuiabá.
A criança
De acordo com o boletim clínico emitido pela Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá, onde a criança está internada, ela encontra-se em estado grave, porém estável. A bebê continua com insuficiência renal aguda e faz diálise. Permanece sob sedação contínua e respira com ajuda de aparelhos.
Investigação
Kutsamin Kamayura foi presa na quarta-feira (6) e as investigações apontam que ela premeditou o crime, uma vez que, tanto a bisavó quanto avó do bebê, não queriam que a mãe, uma adolescente de 15 anos, fosse mãe solteira, já que o pai da criança assumiria a paternidade.
A bisavó também seria responsável por enterrar a menina viva, no quintal da casa, logo após o parto.
Em princípio, a Kutsamin alegou que o bebê não teria chorado e, por isso, ela acreditou que a criança estivesse morta.
No entanto, para o delegado Deuel Paixão Santana, que acompanha o caso, as índias teriam premeditado o crime não aceitavam a criança, já que o pai do bebê seria um índio de outra etnia.