O doutor em Ecologia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Fernando Tortato, que é especialista em onças-pintadas há 10 anos diz que não há nada de estranho no animal aparecer na Baía de Cáceres.
De acordo com o pesquisador, o local é habitat natural da onça-pintada e não seria correto retirá-la dali.
“A gente tem que pensar num contexto de Pantanal, que é um dos biomas mais preservados do Brasil. Tanto Cáceres como Corumbá, que são duas cidades que estão às margens do rio Paraguai, estão diretamente conectadas com o Pantanal”, explicou.
“A gente acaba achando estranho ver uma onça do outro lado do rio, próximo da praça da cidade. Mas temos que lembrar que ali é o seu habitat. Das 100 vezes em que a onça passa pela área, duas, três ou cinco vezes ela será vista. Muitas vezes ela já estava muito tempo ali e não foi notada”, disse.
Tortato ainda explica que o risco do felino atacar uma pessoa é quase nulo, mas que entende as autoridades quererem retirá-la dali por conta da população.
“As onças estão no Pantanal há séculos, no mesmo espaço que o homem. Quantos ataques houve aqui? Um apenas, em que o rapaz estava acampando e provocou a situação. Eu concordo que estar ali é um problema, mas se pensar nessa situação em Cáceres, ali é o habitat dela, tem onça, tem jacaré, tem capivara”, afirmou.
“O risco de ela atacar alguém é baixíssimo. Primeiro porque se ela tivesse que atacar alguém, ela já teria feito há séculos, desde que Cáceres existe. Já iria ter casos recorrentes de ataques”.
O especialista disse que a população deveria olhar a aparição da onça-pintada como algo extraordinário e único no Mundo.
“Se você buscar na literatura ou em jornais, você verá que é muito raro as onças-pintadas atacarem alguém. Eu tento enxergar isso como uma coisa muito boa, porque na África as pessoas pagam muito caro para ver os leões em parques e reservas. Cáceres tem esse potencial no seu quintal, um privilégio ver isso, algo único. Então se você olhar por essa ótica, é algo surpreendente”.
“Óbvio que as pessoas temem por uma questão natural primitiva, mas se nos basearmos nos fatos, eu indicaria para os bombeiros removerem todas as abelhas e cachorros de rua, que oferecem muito mais perigo à população do que essa onça. E o perigo para ela são as pessoas, não ela para as pessoas”.