Os cinco trabalhadores resgatados pela Polícia Federal nessa terça-feira (28) em Sinop, a 503 km de Cuiabá, viajavam em um caminhão-baú e respiravam através de uma pequena janela na lataria do veículo. Dois deles são adolescentes de 16 e 17 anos.
Eles ficavam escondidos atrás de um tapume de madeira, com panelas na frente, para evitar que fossem vistos em caso de fiscalização.
As mercadorias eram vendidas nas cidades em que paravam.
Segundo o delegado da Polícia Federal de Sinop, Gabriel Costa, o proprietário do caminhão e responsável por manter os trabalhadores em situação análoga a de escravos está preso na Penitenciária Osvaldo Florentino Leite Ferreira, mais conhecida como Ferrugem, em Sinop.
Ele vai passar por audiência de custódia e pode ser liberado mediante o pagamento de fiança.
De acordo com o delegado, foi firmado um acordo com o dono do caminhão e ele pagou cerca de R$ 4 mil para cada um dos cinco trabalhadores resgatados para que eles voltassem ao Ceará.
Alguns trabalhadores já estavam ligados ao proprietário do caminhão há mais de um ano.
Dívidas intermináveis
Os trabalhadores já saíam de suas cidades natais devendo aos empregadores a passagem, a alimentação e o adiantamento de valores. As quantias eram registradas em cadernos e acrescidas às supostas dívidas dos trabalhadores. Como as vítimas nunca conseguiam saldar o débito por receberem valores ínfimos pela venda das panelas nas ruas das cidades, eram sempre obrigadas a fazer novos “empréstimos”. Os cadernos com as anotações dos valores devidos e descontados dos trabalhadores também foram apreendidos pela polícia. Formava-se, então, uma espécie de dívida eterna, que não podia ser quitada e que era aumentada ao final de cada viagem.
Ao relento
Os trabalhadores não tinham local para dormir e comer. O grupo só comia se vendesse algum produto no dia.
Eles acabavam sendo obrigados a amarrar redes a árvores em pátios de postos de combustíveis, ficando, assim, ao relento, sujeitos a intempéries e vulneráveis a riscos diversos.
Segundo os relatos, os trabalhadores, quando contratados, recebiam um “adiantamento”, a ser devolvido posteriormente, para pagar os gastos com o transporte, combustível e alimentação. Todavia, como a remuneração consistia em uma pequena porcentagem do que era vendido, nenhum deles conseguia saldar a suposta dívida, sendo obrigados a continuar laborando. Formava-se, então, uma espécie de dívida eterna, que não podia ser quitada e que era aumentada ao final de cada viagem.