O empresário Marcelo Cestari, pai da adolescente que matou com um tiro, supostamente acidental, a amiga Isabele Guimarães Ramos, de 14 anos, no condomínio de luxo Alphaville, em Cuiabá, teria mudado a versão dos fatos após a chegada do seu advogado no local do fato. A informação consta no depoimento dos profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), prestado na última quinta-feira (30).
Pai de adolescente que assumiu disparo fez várias ligações antes da chegada do Samu, diz MP
Nesta sexta-feira (31), policiais militares que atenderam a ocorrência também foram ouvidos pelas autoridades. O caso está sendo invetigado pelas delegacias especializadas de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica) e do Adolescente (DEA).
Segundo o apurado pelo Olhar Direto, os profissionais do Samu contaram - na quinta-feira (30) - que, na ligação feita pelo empresário para o socorro, a todo instante ele dizia que a menina havia sofrido uma queda. Esta versão teria sido mudada apenas após a chegada do advogado da família na residência.
Em seu depoimento à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o empresário contou que acreditava que Isabele teria sofrido um acidente doméstico. Quando chegou ao banheiro, ele disse que encontrou a adolescente caída, próximo a banheira, com o tronco da cabeça inclinado lateralmente.
O empresário, ainda conforme seu depoimento, disse ter gritado para que as pessoas chamassem o Samu e a mãe de Isabele. Ele então teria ligado para o socorro, tendo sido orientado a prestar os primeiros socorros.
O Ministério Público Estadual (MPE) apontou no mandado de busca e apreensão, deferido pela juíza Cristiane Padim da Silva, da 2ª Vara Especializada da Infância e Juventude da Comarca de Cuiabá, que o empresário Marcelo Cestari teria feito várias ligações a terceiros antes da chegada do Samu à sua residência.
“O promotor de Justiça destacou que o genitor da investigada teria efetuado ligações para várias pessoas, as chamando para o local, havendo a possibilidade de terem chegado antes do Samu, perícia técnica e Polícia Civil. E apontou a importância de verificação dessas ligações e de eventuais mensagens”, diz trecho do mandado.
Marcelo continuou em seu depoimento dizendo que não tinha, até aquele momento, ciência de que a adolescente havia levado um tiro. Vale lembrar que a perícia mostrou que o disparo atingiu a região da narina de Isabela saindo pela cabeça.
O empresário relatou que não tinha sangue no local e nem marca de tiro. A cabeça da menor estava em cima do trilho do box do chuveiro. Após orientação do Samu, ele então teria colocado-a em superfície plana, ajustado sua cabeça e iniciado a massagem cardíaca.
Marcelo ainda disse que, enquanto ajeitava a cabeça da adolescente, sentiu uma “bola” em sua nuca. Somente após o início da massagem cardíaca é que ele disse ter percebido sangue sair de algum lugar próximo de onde estaria a protuberância que sentiu, sendo que a quantidade aumentou rapidamente.
O empresário ainda disse que só percebeu que a adolescente havia levado um tiro durante a sua comunicação com o Samu e a chegada de um médico amigo da família. Comentou ainda que o atendente havia questionado se não se tratava de um disparo de arma de fogo, mesmo ele tendo relatado que se tratava de uma queda e de não ter dito nada que apontasse para tal, tendo Marcelo respondido que acreditava que Isabele havia caído.
Marcelo ainda diz que somente após a chegada do Samu lembrou-se de ter ouvido que alguém, sem especificar, teria dito que a menor havia sido atingida por disparo de arma de fogo. Posteriormente é que ele afirma que sua filha mais velha confirmou que a adolescente foi atingida por um tiro, supostamente, acidental.
Contradição
Um menor de idade, ouvido como testemunha no caso da morte de Isabele Guimarães Ramos contradisse a versão apresentada pelo empresário Marcelo Cestari, em depoimento à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na semana passada.
Ouvido na Delegacia Especializada os Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica), o adolescente contou que o empresário estaria na sala da casa quando aconteceu o disparo que matou Isabele.
Tal fato vai contra o que disse o empresário em seu depoimento. Na semana passada, Marcelo contou que estava comendo a sobremesa do jantar, na área externa próximo a piscina da casa.
O empresário então contou que escutou um barulho, parecendo com o de uma porta de vidro fechando.
Consta ainda no documento de Marcelo que a porta estaria fechada e, por conta disto, não teria identificado que se tratava de um disparo de arma de fogo.
O caso
Segundo informações da Polícia Judiciária Civil, por volta das 22h30 Isabele já foi encontrada sem vida no banheiro da casa. A amiga informou à Polícia que efetuou o disparo acidentalmente contra a colega.
Isabele morreu com um tiro na cabeça (entrou na região da narina e saiu pela nuca), efetuado pela amiga ao manusear uma pistola PT 380, dentro do condomínio Alphaville I, no bairro Jardim Itália, em Cuiabá.
Das sete armas encontradas na residência, duas delas não estavam com o registro no local e por este fato, o proprietário foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo de uso permitido. Ele foi conduzido à DHPP e autuado pelo crime, que é afiançável. Depois de pagar a fiança, foi liberado.